Dossiê: Brasil-África do Sul: experiências cruzadas. Revista Paranoá (FAU-UnB), 2017

     Visualizar v. 10 n. 18 (2017): Fluxo Contínuo - Janeiro/Junho

Este número da revista Paranoá traz um dossiê com pesquisas e reflexões recentes sobre o Brasil e a África do Sul nos campos da Arquitetura e do Urbanismo e também da História e Ciências Sociais. O dossiê vem, assim, dar continuidade a um diálogo interdisciplinar estabelecido entre professores e pesquisadores dos dois países por meio de publicações diversas, da formação de redes de pesquisa e da participação em eventos científicos. Ao abrir esse espaço para discussões correntes nos dois lados do Atlântico e para perspectivas comparadas de abordagem, evidenciam-se afinidades, convergências e paralelismos entre contextos aparentemente muito distintos. O artigo de Roger Fisher, Mary Lange e Emmanuel NKambule sobre práticas de ensino e aprendizagem na África do Sul reflete sobre a elaboração de um currículo descolonizado,mais adequado à diversidade cultural e ao contexto da África do Sul pós apartheid, mas também atento às especificidades do campo disciplinar da Arquitetura. Uma discussão similar sobre a necessidade de reconhecer diversidades e incentivar posturas críticas é, como se sabe, também da maior relevância para o contexto brasileiro, sobretudo em tempos recentes. Em seguida, Marguerite Pienaar e Arthur Baker detêm-se no tema da circulação de ideias entre Brasil e África do Sul e suas implicações para a afirmação do movimento moderno em cada um desses países, levando-nos a questionar a centralidade usualmente atribuída a referências europeias ou norte-americanas. Marguerite Pienaar investiga a viagem do arquiteto sul africano Norman Eaton pela América em 1945, destacando as impressões, registradas em um diário pessoal, sobre o Ministério da Educação e Saúde e o encontro com Oscar Niemeyer. Como mostra Pienaar, a experiência brasileira teve impacto profundo no modo como Eaton e seus seguidores assimilaram tradições africanas a uma arquitetura moderna com identidade local. Arthur Barker, por sua vez, apresenta uma trajetória da formação do movimento moderno na África do Sul e desenvolve uma análise comparada entre os edifícios do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro e o Meat Board Building de Pretoria, mostrando semelhanças formais e nas soluções de adaptação ao clima e à cultura locais. Os artigos seguintes desenvolvem análises com abordagens diversas voltadas para a escala das cidades e dos espaços urbanos. O artigo de autoria de Alain Bertaud baseia-se numa análise comparada de Brasília, Johanesburgo e Moscou, a partir de dados sobre densidade populacional e dispersão espacial, para concluir que distintas ideologias subjacentes ao planejamento podem ter implicações similares na configuração do território metropolitano. Ainda no campo da análise de configurações urbanas, mas com interesse na escala dos espaços públicos, Karina Landman trata da discussão crucial, no Brasil e na África do Sul, sobre a utilização de espaços e o medo do crime, numa análise cuidadosa de alguns lugares da capital sul africana. Ainda com atenção a formas de controle dos espaços, o artigo de Guilherme Oliveira Lemos estabelece aproximações entre processos e instrumentos de segregação urbana, racial e de gênero entre Soweto (Johanesburgo) e Ceilândia (Distrito Federal). O artigo de Natalia Cabanillas também trata de desigualdades sociais, de gênero e raciais, com base em pesquisa etnográfica na Cidade do Cabo, na África do Sul, buscando apontar formas de resistência e lógicas de pertencimento a comunidades de mulheres. A despeito da distância que separa Brasil e África do Sul, os artigos que compõem este número da revista Paranoá apontam questões e problemas compartilhados, sugerem instigantes possibilidades de comparação e desafiam a rever interpretações.

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