Vertentes da historiografia e da crítica de Brasília. Maria Fernanda Derntl. 2021.

Em 2020, completaram-se sessenta anos desde a inauguração da nova capital do Brasil em 21 de abril de 1960. Mas, já desde os anos iniciais de sua construção, em fins da década de 1950, Brasília foi objeto de intensa controvérsia e de publicações variadas que buscaram divulgar e legitimar a iniciativa de mudança da capital do Rio de Janeiro para o Planalto Central. Apenas em fins da primeira década do século 20, emergiram estudos e análises nos quais se mostrava uma preocupação mais clara, ainda que em geral breve, no sentido de retomar a historiografia existente sobre a capital e criticar seus pressupostos. Ainda assim, são escassos os trabalhos dedicados a traçar um panorama mais abrangente dos escritos a respeito da capital e sua história. Este trabalho busca contribuir nesse sentido ao traçar um quadro de estudos, trabalhos e registros sobre Brasília realizados desde fins da década de 1950 até a atualidade, nos quais a perspectiva de análise volta-se nem tanto para a arquitetura, mas para a história da cidade, de seu plano ou de aspectos diversos de sua vida urbana.

Longe da intenção de realizar um levantamento completo ou de estabelecer um rol de autores principais, apontam-se aqui algumas vertentes de análise e abordagem de Brasília em textos publicados ao longo desse amplo arco temporal. Neste panorama, consideramos fundamentais os aportes não apenas de arquitetos e urbanistas, mas de também de profissionais de outras áreas das ciências humanas, tais como historiadores, antropólogos e geógrafos. Privilegiamos os trabalhos de caráter monográfico sobre a capital, mas também citamos alguns livros seminais no campo disciplinar da História do urbanismo e do planejamento, nos quais Brasília desempenha papel peculiar na constituição da análise.

Destacaremos aqui cinco vertentes de análise: a de apologia à capital e a sua revisão, a crítica à cidade modernista, as análises morfológicas, geográficas e históricas e ainda as representações sociais. Não se trata de uma classificação estanque, mas de uma tentativa de identificar algumas chaves de leitura e de interpretação. Algumas dessas vertentes tenderam a se mostrar de modo mais claro em determinados períodos, mas também permanecem incidindo em trabalhos recentes, nos quais nem sempre se atenta para os propósitos ou o contexto de elaboração das referências mencionadas. É possível perceber também uma inflexão nos estudos conduzidos nos últimos anos, com uma abertura para novos temas e problemas a partir de fontes também pouco usuais.

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